segunda-feira, 20 de outubro de 2008

leitura de imagens

Conhecer e interpretar imagens

Prof. Ms. Antonio Costa Andrade Filho

“A leitura de mundo precede a leitura da palavra”
Paulo Freire


A imagem é inerente ao homem em tudo o que ele faz e pensa. Esta relação é ancestral e acontece de diferentes maneiras na religião, na política, na sociedade, na educação e na cultura. O homem é um ser simbólico que ao mesmo tempo é espectador e produtor de imagens. Assim, as imagens não são dadas são construídas pelo ser humano como forma de comunicar sentimentos e idéias, e este ato comunicativo é fortemente icônico. A comunicação por imagens é transmitida com mais facilidade, porque uma imagem consegue agregar grande quantidade de informação ao mesmo tempo.
Ao trabalhar com imagens algumas perguntas surgem naturalmente ao processo de apreensão do que estamos vendo, afinal, a imagem é um tipo de texto? Uma imagem pode ser lida? Por que é importante ler uma imagem? Como o contato com diferentes tipos de texto e de leituras poderá contribuir na aprendizagem dos alunos? Qual a relação das imagens com a aprendizagem?
Nosso objetivo neste estudo não será encontrar respostas para as perguntas do parágrafo anterior, nem propor uma receita para leitura de imagens, sob o risco de torná-la em prática mecanizada e logo sem sentido. Nosso intuito é propor um exercício reflexivo sobre diferentes imagens, considerando que na contemporaneidade o apelo imagético é muito recorrente e por isso precisaremos estar atentos às imagens que nos chegam aos olhos, como poderemos compreendê-las e extrair-lhes o sentido?
No entanto, ver sem contemplar, sem perceber é uma atitude mecanizada que nos leva a aceitar uma imagem sem pensar sobre ela. A leitura de imagem está além da simples decodificação de dizer qual é a cor ou a forma de uma determinada figura. Ler uma imagem é pensar em aspectos formais, intelectuais, sensíveis e de significados do que estamos vendo, sentindo e pensando.
Nesse sentido, faz-se necessário uma alfabetização em leitura de imagem, ou seja, uma orientação para que possamos interpretar e construir conceitos sobre o que estamos apreciando. O olhar deve ser educado para investigar as minúcias, para perceber pelo sentido da vista.
Segundo Merleau Ponty “ver é por princípio ver mais do que se vê, é aceder a um ser latente, o invisível é o relevo e a profundidade do visível” (Merleau Ponty apud NOVAES, 1988, p. 14). Ver é uma ação que abarca dois processos cognitivos o intelecto com a razão e o sensível com o sentido do que e como se vê.
Do mesmo modo, a leitura é uma ação que envolve o caráter cognitivo e afetivo de cada ser humano, porque quando lemos atribuímos significados, realizamos esta prática com todo nosso repertório, lemos como somos e com o que temos, esta leitura está permeada por todas as nossas experiências anteriores, porque trata-se de um ato sensível e de descoberta, que envolve a minha forma de ler o mundo e a forma como o meu colega lê e expressa o seu mundo.
Dessa maneira, será preciso compreender a forma como cada pessoa lê e se relaciona com imagens, pois esta leitura está intrinsecamente ligada a nossa identidade e a memória afetiva, dos fatos que lembramos e como lembramos, com o que associamos e o valor que damos a esta memória.
Assim, a primeira televisão a cores, a lembrança da tela de um PC 386, de uma fotografia de família retocada a mão, a ilustração de um livro, um filme são elementos da nossa memória afetiva, são lembranças e tudo que vemos e veremos agora e no futuro partirão destas experiências, para que se construam novos conceitos e se estabeleçam novas leituras, isto é uma pequena introdução do que é a leitura de imagem.
Nessa perspectiva, a leitura de imagem deve ser uma prática sensível de apreensão de mundo sem mecanizá-la ou torná-la enfadonha, a leitura deve ser dinâmica, viva e sensível, porque é pela sensibilidade que se inicia a compreensão e a construção do pensamento visual. Logo, ler uma imagem é uma experiência sensível e criadora, de pensar e repensar o mundo criticamente.
“Os seres humanos sentem prazer em olhar para as imagens que reproduzem objetos. A contemplação delas os instrui, e os induz a discorrer sobre cada uma, ou a discernir nas imagens as pessoas deste ou aquele sujeito conhecido”. (ARISTÓTELES, 1975)
Aristóteles nos fala da forma como nos relacionamos com as imagens, primeiro pelo prazer de olhar, depois pela contemplação e logo a apreensão quando discorremos sobre o que vemos e pelas relações que estabelecemos com a imagem.
À medida que, nos damos conta que estamos observando e comparando uma foto, imagem ou pintura com o nosso repertório é esse o momento que estamos lendo a obra visual.
Na atualidade toda imagem pode ser lida como um tipo de texto. “Quando tentamos ler uma pintura, ela pode nos parecer perdida em um abismo de incompreensão ou, se preferirmos, em um vasto abismo que é uma terra de ninguém, feito de interpretações múltiplas” (MANGUEL, 2001, p. 29).
A multiplicidade relatada pelo autor se refere à idéia de que uma obra de arte não está terminada ao ponto de se tornar fechada em si mesma, e enquanto forma artística permite diferentes formas de ler e de se atribuir significados. Assim, poderemos acrescentar a nossa forma de ver e a nossa opinião para que a obra continue viva.
Também na educação as imagens são muito recorrentes, a escola tem imagens espalhadas por todo o prédio, para sinalizar, para ilustrar ou para comunicar as atividades e os conteúdos que estão sendo trabalhados. O livro didático de todas as disciplinas está repleto de imagens. Os professores usam cartazes, fotos, filmes e internet, todos esses meios são icônicos. Da mesma maneira, os alunos vivem intensamente rodeados de ícones imagéticos dentro e fora do ambiente escolar.
Portanto, a leitura de imagem deve ser uma experiência sensível e comum a todas as áreas do conhecimento humano para desvelar o sentido, o formal e o contexto do que se lê. Além disso, os professores das diversas áreas e os alunos precisam vivenciar experiências estéticas na linguagem não-verbal como forma de educar o olhar, não pela via do olhar sem ver, sem querer investigar de caráter imediatista, mas pela vivência sensível de descobrir sobre a forma e o conteúdo do que e como se vê. Para tanto, comece a sua leitura por algumas perguntas a si mesmo: O que posso associar a imagem que estou tentando ler? Qual é o contexto? Qual será o significado? Quem é o autor? O que mais eu vejo?
Após a leitura e discussão do texto propor o seguinte exercício reflexivo na sua escola:
1 ler as instruções postadas no: www.folio-scopio.blogspot.com
2 usar o material em HTPC e registrar em ata o que foi discutido, fazer um pequeno relatório e postar no blog da escola.
3 montar o seu próprio kit de imagens.
Trabalhando com imagens
1º Observar:
1 olhar rapidamente por um segundo e depois esconder a imagem
2 escreva sobre o que você viu ( o que consegue lembrar)
3 olhar mais uma vez e verificar a correspondência entre a imagem e as suas anotações.
4 manusear e observar com mais atenção as imagens escolhidas (faça um rodada com as imagens deixe cada pessoa pegar e olhar)
5 estabelecer relações com o que você já conhece (fotografias, desenhos e filmes). A imagem que você está trabalhando neste exercício se parece com alguma fotografia, filme ou desenho que você tenha visto antes, qual?
2º Descrever:
1 fixar a imagem na parede
Elabore um registro por escrito abordando:
2 o que é?
3 o que está fazendo?
4 em qual lugar acontece?
5 época?
6 observe e descreva como são as:
Cores, linhas e formas.
3º Significado:
Qual significado você atribuiria a esta imagem?
Discuta com um colega sobre o que cada um entendeu como significado desta imagem.
4º Contextualizar:
Agora é o momento de você professor revelar:
_o nome do fotografo ou artista;
_a data e o local na qual a obra foi realizada;
_fatos históricos que se relacionam com a obra.

Montando seu próprio kit de imagens


_ selecionar material de fotos e desenhos em jornais, revistas e internet monte um kit com imagens para serem trabalhadas em sala de aula pelos alunos, escolha temas diversos.
_ após selecionar as imagens recorte um pedaço de cartolina ou papel cartão em tamanho maior que a fotografia ou desenho deixe uma margem lateral como moldura, sua montagem está pronta. Faça isso sempre que uma imagem lhe interessar esse material poderá ser utilizado em qualquer disciplina e série. Ler imagens é uma ação que desperta a curiosidade para diferentes áreas do conhecimento humano.

Referencias bibliográficas

ARISTÓTELES. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1975.
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo: Companhia das letras, 2001.
NOVAES, Adauto. O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Anexos
Professor, anexamos algumas imagens para facilitar o seu trabalho, porém elas são apresentadas aqui apenas como sugestão, você poderá escolher a imagem que mais lhe agrade para realizar um trabalho de leitura de imagem.
Veja as imagens abaixo e procure estabelecer relações entre fatos, idéias e significados das imagens.
SEBASTIÃO SALGADO (1944-)
Em 1981, Sebastião Salgado "estoura" no cenário mundial ao ser o único fotógrafo a documentar a tentativa de assassinato do então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, o que lhe dá grande destaque internacional.
Brasileiro, radicado na França, Salgado é reconhecido mundialmente como um dos mestres da fotografia documental contemporânea. Nos anos 80 e 90 publica grandes fotorreportagens de denúncia social, em livros como Sahel: l'Homme en Détresse (1986), Trabalhadores (1993) e Terra (1997).
Quatro anos depois de ter sido publicado no exterior, o livro Trabalhadores, começa a ser vendido no Brasil, na segunda semana de março de 1997.
A obra, que levou sete anos para ser realizada, reúne 350 fotos de trabalhadores de várias partes do mundo em 400 páginas.
The Serra Pelada - gold mine - Brasil (1986).



Jacques-Louis David (Paris, 30 de agosto de 1748 – Bruxelas, 29 de dezembro de 1825) foi um pintor francês, o mais característico representante do neoclassicismo. Controlou durante anos a atividade artística francesa, sendo o pintor oficial da Corte Francesa.

“O rapto das sabinas” – Jacques louis David – óleo s/tela – 1799

Conflitos na Praça da Paz Celestial
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No ano de 1988, os estudantes chineses fizeram um protesto na Praça da Paz Celestial pedindo liberdade, em Beijing, na China. O movimento foi duramente reprimido pelo governo. A imagem acima tomou o mundo, quando um estudante parou uma carreira de tanques. O estudante, depois, foi executado, e o oficial que estava dirigindo o tanque, rebaixado.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá, gostei muito do seu blog. Ele é muito bom.

Parabéns!

Abraços